quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Morreu uma filha de Bethânia..."

“Não conseguimos! Não deu tempo! Perdemos mais uma filha!”
            Numa noite, zapeando a TV, deparei-me com uma voz. A voz era uma mulher... Que coisa linda aquela voz forte e diferente. A beleza era a voz sem enfeites ou voz, olhei para o seu rosto e seus cabelos (exagerada a maquiagem e cabelos volumosos e escuros). Mas, eu só “via” a voz. Peguei o finalzinho do show. A vontade era ter de imediato um CD, um DVD. “Quem era ela?” Amy Winehouse! Isso foi há dois anos e meio. Fiquei encantado, mas não acompanhei mais.
            Tempo depois, novamente me encontrei com a cantora de nome difícil de pronunciar. A notícia, agora, ligava sua voz à desfiguração de seu corpo, aos escândalos de sua vida pessoal desregrada, à dependência do álcool e do crack, ao seu namoro conturbado e polêmico com algum artista.
            Fiquei muito triste e chocado pelas imagens; não teve como não pensar nos filhos de Bethânia. Pensei no talento daquela moça, na riqueza de sua voz poderosa, em toda fama e dinheiro, pensei na família dela... Ela tinha tudo para dar
            Certo! Não sei...Talvez não... O que aconteceu? Não a vejo diferente dos nossos filhos de Bethânia.
            Talvez fosse uma “pobre jovem” igual a milhares, milhões de filhos e filhas perdidos de suas famílias, meninas e meninos perdidos no vazio de sentido, desorientados por uma sociedade que cria os seus mitos e ídolos, seus derrotados e desacreditados, seus compulsivos consumidores, seus filhos inseguros e medrosos quanto ao futuro, seus jovens alienados pela dependência química...
            A sua música mais reconhecida e premiada (REHAB, Reabilitação), cantada por adolescentes e jovens, gente dependente química, talvez tenha se tornado o grande hino do “NÃO” à esperança e ao sonho, e um SIM ao erro de querer e conseguir sozinho na luta contra as drogas. “Tentaram me mandar pra reabilitação. Eu disse: "não! Não! Não... E mesmo meu pai pensando que eu estou bem, ele tentou me mandar pra reabilitação, mas eu não vou! Não vou! Não vou!"
            Um produtor musical fez uma crítica direta e emblemática: “... Vimos a vergonha e a tristeza de uma tragédia assistida e festejada por milhares de pessoas, especialmente jovens...”. Ele falava de um show dela em Florianópolis, SC, em que a cada intervalo que a cantora se abaixava para tomar uma dose de bebida alcoólica, a platéia delirava e batia palmas.
            Como é triste a celebração da decadência e da fragilização da pessoa humana. O meu sentimento é de tristeza mesmo – era uma Filha de Bethânia. “Não conseguimos! Não deu tempo! Perdemos mais uma filha!”. E, talvez digam que “ela não quis”, ou que “preferiu a vida boa”. Talvez digam que “era uma fracassada, uma coitada”?
            Quantos bateram palmas ante sua loucura performática e irreverente? Quantos agora derramam lágrimas e hipocritamente pegam versos de suas canções para dizer que Amy permanecerá eterna? Mentira. A verdade é nua e crua: não há beleza ou glamour em um corpo comido e corroído pelo álcool e pelo crack ou qualquer outra droga que seja! Testemunhamos naquela moça genial o que todo o dia acontece pelas cracolândias do Brasil e do mundo, no submundo da solidão das drogas e da prostituição.
            Ainda, no trecho da canção: “Eu não quero beber nunca mais. Eu só, só preciso de um amigo...”. Abraço, carinho, palavras bonitas, calor humano, a proteção familiar, é o que tem faltado pra tantos dos nossos filhos e filhas jogados fora todos os dias. O mundo está doente. O mundo precisa de abraço, de palavras fortes e cheias de amor humano. O mundo precisa de Deus e de pessoas que tenham coragem de cantar novos refrãos de esperança de vida verdadeira.
            O mundo precisa de Deus. O mundo precisa de pessoas que lutam todos os dias e não desistem. O mundo precisa de pouca coisa e que custa quase nada, é de graça. O mundo precisa de amor falado, repartido e celebrado. “O mundo precisa de novos refrãos de esperança de vida verdadeira!!!”

Pe. André Luna, scj

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Coração de Jesus: Fornalha Ardente de Amor

“Sede, pois imitadores de Deus como filhos queridos. Vivei no amor, como Cristo também nos amou e se entregou a Deus por nós como oferenda e sacrifício de suave odor.” Ef 5,1s

            Chega-se ao conhecimento de alguém conhecendo o seu coração: seus sentimentos, seu pensar e seu agir. Com a pessoa de Jesus Cristo, isto não é diferente - ao contemplarmos o Seu Coração, neste mês que lhe é dedicado, delineamos a Sua personalidade – nosso Deus tem coração.
            Dentre as infinitas virtudes do Coração do Mestre me encontrei com um coração que nos escuta, nos acolhe e que acima de tudo nos ama, de maneira incomparável e incondicional. É neste Coração, manso e humilde que somos plenamente reconciliados com o Pai.
No Coração de Cristo, aberto pela lança, no Alto da Cruz, existe uma fornalha ardente de amor, na qual são consumidas todas as nossas fraquezas, limitações, misérias e pecados, neste fogo da misericórdia que jamais se extingue.
O Amor é o combustível a alimentar a fornalha ardente do Coração do Mestre, é este amor que nos confere a graça de sermos filhos de Deus e é também o combustível que deve alimentar a nossa vida e a nossa caminhada de fé, no seguimento do Senhor.
Devemos pautar todos os nossos sentimentos, pensamentos e ações no Coração de Jesus e agir como Ele – Não basta dizer que amamos, é preciso provar o que sentimos com o nosso agir.
“Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu...” é a letra de uma música antiga, mas ao mesmo tempo sempre nova, é a dica para vivermos melhor e trilharmos um caminho de santidade, sendo “imitadores de Cristo”.
Alimentados pelo Amor do Coração de nosso Deus, que tal deixarmos arder também em nossos corações esta fornalha ardente de amor?

“Jesus, manso e humilde de Coração: fazei do nosso coração semelhante ao vosso!”
Deus o abençoe!
In Corde Iesu!

Seu irmão,
Mateus

domingo, 26 de junho de 2011

Amar, carregar e acolher...

“Quem ama seu pai ou sua mãe, mais do que a mim não é digno de mim (...)
Quem não carrega sua Cruz e não me segue, não é digno de mim!(...)
Quem vos acolhe, a mim acolhe!” Mt  10,37-42

AMAR, CARREGAR, ACOLHER são verbos que devem direcionar a caminhada de todo cristão.
            O caminhar com Cristo e anunciá-lo não é simplesmente dizer “Senhor, eu estou contigo” - é necessário de nós um esforço pessoal de mudança, de conversão, conformando nossa vida, à vida de Cristo. Esta vida nova que Paulo nos fala em sua carta aos Romanos “Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova!” (Rom 6,4)
            O Senhor nos diz “Quem ama seu pai, ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim”. Essa palavra pode nos parecer dura, ainda mais por se tratar de nossa família, mas se atentarmos ao que o Jesus nos diz tudo faz sentido - Ele não nos pede nada mais que o cumprimento do 1º mandamento da Lei de Deus que é: “AMAR a Deus sobre todas as coisas”. 
Jesus pede para si o amor que Deus havia pedido no Antigo Testamento - “Shemá Yisrael  – Portanto amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda tua alma e com toda a tua força” (Deut 6,4-5) – Ele quer de nós esse amor  inteiro, em plenitude!
Jesus é muito claro quando nos diz “Quem ama sua família MAIS DO QUE a mim”. Ele não nos pede que deixemos de amar os nossos familiares, mas faz-se necessário que O amemos em primeiro lugar! O amor ao outro é um transbordamento do amar a Deus sobre todas as coisas.
            O Senhor nos diz ainda “Quem não toma sua Cruz e não me segue, não é digno de mim” – Todos nós temos cruzes a carregar - faz parte da dinâmica da vida de qualquer cristão, imitar o Cristo em tudo, inclusive no carregar da Cruz.
Nos Evangelhos sinóticos, a comunidade de Lucas escreve “Quem não carrega sua cruz e não vem após mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27), já Marcos nos diz: “Se alguém quiser vir a mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mc 8,34).
Os evangelistas usam os verbos “tomar, carregar”. Aí está a nossa responsabilidade para com o chamado que Deus nos faz – Tomar, CARREGAR a nossa Cruz – e não simplesmente arrastá-la – Carregar a nossa Cruz é assumi-la com responsabilidade, com empenho, com dedicação e não de qualquer jeito, ou como nos convém. 
Às vezes nossa cruz é o nosso jeito de ser, as nossas limitações, ou ainda as limitações do irmão de caminhada, que ao “bater de frente” com as nossas são conflitantes. Nossa cruz pode ser também o nosso trabalho, os nossos estudos, que talvez não fluam como gostaríamos, enfim, cada um conhece suas maiores dificuldades, daí a necessidade de nos empenharmos mais e mais, “carregando” com amor e com ardor a nossa cruz de cada dia e não apenas, “arrastando-a”.
O mais simples ato de amor com que cumprimos nossa missão é recompensado por Deus. Daí a necessidade de termos o “Amor” como regra de vida! O Amor incondicional a Deus, que transborda no relacionamento com o outro. 
            Neste mesmo amor, o Senhor nos convida ainda a ACOLHER – “Quem vos acolhe, a mim acolhe” - Em nosso despojamento, no sair de nós mesmos para ir de encontro ao outro, devemos receber e estar com nossos irmãos como se estivéssemos junto a um profeta. É nesse acolhimento simples que nos encontramos com Jesus. É por meio de gestos simples, com generosidade, com gratidão, que Deus se serve de nós para se fazer bom para com o outro.  
Ganhamos a vida, recusando o nosso egoísmo. Perdemos a vida fechada em nós mesmos e ganhamos uma vida nova, iluminada pelo Cristo, quando nos fazemos acolhedores.
            Abracemos inteiramente nossa Missão: colocando em prática os três verbos: AMAR, CARREGAR e ACOLHER - AMAR a Deus acima de tudo e amando-O sejamos capazes de assumir firmemente a missão que Ele nos confia, dispostos a CARREGAR com firmeza nossa Cruz e ACOLHER o Cristo na pessoa dos irmãos.

             Que Deus o abençoe e o fortaleça em sua caminhada!
             No Coração de Jesus,

             Seu irmão,
             Mateus Fernandes

sábado, 11 de junho de 2011

Veni Creator Spiritus! - Vem, Espírito Criador!

Só podemos compreender os mistérios da vida de Cristo, o Seu amor extremo por nós, a loucura da Cruz, Sua Presença Real na Eucaristia e nos demais Sacramentos pela ação do Espírito Santo.
É Esta Pessoa da Trindade – e por ser Pessoa permite relacionar-nos com Ele - que habita o templo vivo, que somos nós! Do transbordamento do Amor da Trindade, somos nós intensamente amados por Deus e participamos de Seus mistérios.
O Espírito Santo nos revela Deus e a nós mesmos, possibilitando o nosso autoconhecimento: a ciência de nossos dons e potencialidades, assim como de nossas misérias e fraquezas e nos dá assim a sabedoria para lidar com cada situação de nossas vidas, solucionar problemas, nos relacionar com o Pai e com o Filho, orando como convém! Daí a importância de estreitarmos nossos laços com Ele, e experienciar assim o Amor do Pai e a Salvação de Cristo, os primeiros grandes frutos desta amizade com o Paráclito.
 A força operante do Espírito Santo em nós, nos dá uma vida nova, santificando nossas ações, de forma que mortos para o pecado, vivamos para Cristo e em Cristo (Rom 8,10s). É esta presença santificante do Espírito em nós, que nos recorda, completa e atualiza os ensinamentos do Divino Mestre, configurando-nos cada vez mais à Sua Pessoa. É o Espírito de Vida que revela nossa filiação divina, e nos permite assumir assim esta condição – Não mais escravos do pecado, nos percebemos filhos de Deus e como filhos, herdeiros do Céu, Paraíso que o Pai Celestial nos reserva!
Estreitemos assim nossa relação com o Espírito Santo, O tenhamos como um verdadeiro amigo, sempre fiel e presente e peçamos a Sua presença em nossas vidas com fervor, para que sejamos a cada dia mais santos e disponíveis à vontade de Deus!

Veni Creator Spiritus!   Vem, Espírito Criador!

Vinde Espírito Criador, a nossa alma visitai 
e enchei os corações com vossos dons celestiais.
Vós sois chamado o Intercessor de Deus excelso dom sem par,
a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar.
Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, 
por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai.
A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, 
nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor.
Nosso inimigo repeli, e concedei-nos a vossa paz, 
se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás.
Ao Pai e ao Filho Salvador, por vós possamos conhecer 
que procedeis do Seu amor, fazei-nos sempre firmes crer.
Amém!

domingo, 24 de abril de 2011

Ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!

"In resurrectione tua, Christe, coeli et terra laetentur"
Na vossa Ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra!


Cristo ressuscitou, ressuscitou verdadeiramente, ALELUIA!

"Da região da morte cesse o clamor ingente: "Ressuscitou!" exclama o Anjo refulgente!"
                                             Trecho Hino Laudes - Domingo de Páscoa

A morte não O Segurou, Seu amor foi maior! Vivo está entre nós, o Senhor!

FELIZ PÁSCOA a todos!

sábado, 9 de abril de 2011

"As Senhoras das Dores"

        A profecia do justo e piedoso Simeão – “E a ti, uma espada traspassará a tua alma” (Lc 2,35a) continua a se concretizar na vida de tantas “Marias” dos nossos dias, que têm sofrido a dor da perda precoce de seus filhos pela espada da violência, das drogas, das doenças, da falta de fé.
        A imagem de tantas mães chorosas diante dos corpos de suas crianças assassinadas em uma chacina em uma escola do Rio me comoveu e me fez recordar uma cena ocorrida há quase 2000 anos: a Santa Mãe de Deus, a Virgem Maria, diante do corpo de Seu Filho Jesus, também muito jovem e inocente, morto de forma extremamente cruel.

        A história se repete, e o Cristo continua sofrendo e morrendo no rosto de nossos irmãos, muitas vezes por nossas próprias mãos: por nossa falta de solidariedade, por nosso descompromisso com a comunidade e com a dor de quem padece pelo abandono, pelo desprezo. Padece por nosso olhar flagelante de condenação, de julgamento, por nossa mão que raramente se abre para doar ou acolher.
        O Cristo que sofre e morre deixa para trás tantas “Marias”, Senhoras das Dores, provadas no sofrimento e que necessitam hoje de nosso apoio e orações e que gritam mesmo no silêncio, a cada lágrima que rola em seus rostos: “Olhem para o Cristo que sofre”.
        Repensemos nossas atitudes como homens e mulheres de fé diante de Jesus que a cada dia passa pelas estradas de nossas vidas no rosto de nossos irmãos mais necessitados e nos pede compaixão.


        Boa preparação para a Páscoa a todos,
        No Coração de Jesus!
        Mateus Fernandes

terça-feira, 22 de março de 2011

Sacrifício - Olívia Ferreira



Teus trajetos eu quero percorrer
Teu Caminho, Jesus, é o meu lugar
Com Tuas marcas, eu quero me marcar
Sofrer a dor prá perdoar

Eu quero obedecer Tua voz
Sacrificar-me por amar
Eu quero Te imitar, Jesus
Vidas restaurar
Eu quero ir além do véu
Romper o impossível
Me ajude a caminhar

Quem escolhe o Teu caminho
Flores não vai encontrar
Vêm coroas de espinhos
Vêm motivos pra voltar
Mas quem escolhe o Teu caminho
Além de tudo encontrará
A maior das recompensas
Que alguém pode ganhar
Vida Eterna!