sexta-feira, 24 de setembro de 2010

No Altar da Amizade!


”Tiram o sol do mundo aqueles que tiram a amizade da vida.” (Filósofo Romano)
                O nosso coração tem sede de ser completo, somos assim, com lacunas em nosso ser, espaços a serem preenchidos com a presença de Deus! Com o Deus a Quem voltamos as nossas orações, o Qual recebemos nos Sacramentos, mas também o Deus que habita o coração dos nossos amigos, surgindo aí a necessidade de nos relacionar cada vez mais profundamente, ter amizades verdadeiras, relacionamentos verdadeiros!
                Em um mundo de cheio de inseguranças e desconfianças não é fácil criar laços profundos. O medo de nos expor, de mostrar nossas verdades, de rasgar o nosso coração ao irmão, nossas reservas pessoais, associadas às frustrações em relacionamentos anteriores, decepções, traições, faz com que vivamos cada vez mais sozinhos – mesmo que isso não seja o que realmente desejamos. Encontramos muitas pessoas na solidão, mas com o coração sedento de ter alguém por perto, alguém em quem confiar, partilhar, rir e chorar. Mas que permanecem sozinhas, por medo de abrir o coração, com medo de se ferir novamente, por desconfiar...
                Temos sempre de nos lembrar que não existem certezas e seguranças para aqueles que são amigos de verdade. Da mesma forma como não estaremos certos de que aquele amigo não nos abandonará, não trairá. É correr sempre um risco!
                 Jesus veio nos mostrar o quanto vale a pena correr este risco, por isso escolheu doze homens cheios de defeitos e limitações, mas que também tinham muitas qualidades! Arriscou e confiou ao escolher Pedro, Mateus, João, Tomé e todos os outros, assim como arriscou-se e confiou ao escolher Judas Iscariotes como um de seus apóstolos, revelou Seus segredos, amou, cuidou, mas ainda assim foi traído. Cada vez que amamos, corremos um risco e isto nos aproxima do Senhor!
                Jesus vem nos mostrar que correr esse risco vale a pena se vivermos a amizade no amor que se doa e que quer fazer o outro feliz. Podemos até pensar com desconfiança, pois Judas traiu o Senhor, mas ao mesmo tempo podemos refletir que outros onze Lhe foram fiéis e uma multidão que veio após assumiu o compromisso com as Suas causas, com a vontade do amigo – Deus, seguindo o ensinamento máximo da amizade deixado por Ele:
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos (Jo 15, 13).
                Este é o ápice de uma amizade verdadeira, o ponto máximo de nossa entrega a um coração amigo - doar a nossa vida em favor do outro - Doar a nossa vida é fazer de nossas amizades um altar – altar o lugar da oblação, dos sacrifícios, da entrega, do oferecimento de nós mesmos, dos nossos gostos, desejos, nossas verdades.
                Amizade é altar, é lugar da renúncia pessoal, onde escorre vida, lágrimas, sentimentos, sangue. Quanto mais nos doamos, mais nos fazemos altar e assim mais próximos do Coração de Jesus nos encontramos!
                As amizades verdadeiras são sagradas, são aquelas que a todo instante - nas partilhas, na verdade revelada - os amigos expõem suas qualidades, mas também suas misérias, suas fraquezas, se entregam, se lançam! E podemos dizer que aí se deita a toalha branca sobre os altares da nossa vida, acendem-se velas que se consomem no amor, e celebra-se também Eucaristia, a presença viva de Jesus em nós!
                 Ser altar é nossa maior necessidade hoje! Estabelecer laços, amizades que nos elevam! O altar nos leva a alcançar a Deus. Se uma amizade não me leva ao Senhor, ela perdeu a sua essência!

                Santo Agostinho nos ensina que “um amigo é uma única alma habitando dois corpos”. Só se aprende o que é ser a metade da alma de alguém sendo verdadeiramente essa metade, vivendo essa amizade, habitando no também o coração do outro.
                A amizade é fonte, de águas puras, que correm, que se doam espontaneamente. O amigo também vai ao encontro de quem precisa e não espera que venham até ele. Não podemos correr o risco de fazer de nossas amizades um poço, esperando que venham até nós para saciar-se - água parada logo cria lodo, sujeira e fica com mau cheiro. Perde-se a graça da amizade, da doação, da entrega!
                A verdadeira amizade nos revela a importância de se estabelecer laços fortes, de cativar e por essa razão, torna-nos responsáveis, já nos diz Saint Exupéry, autor de “O Pequeno Príncipe” - “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, logo, ao cativarmos alguém, roubamos o seu coração, nos responsabilizamos também por sua vida, somos ETERNAMENTE responsáveis por esse anjo-amigo que Deus nos deu, exigindo de nós confiança e o compromisso com o partilhar de vida, de histórias: preocupações, alegrias, tristezas, sucessos, fracassos… assim como nos comprometemos com o partilhar do Pão!
                À medida que confiamos nas pessoas, nos revelamos a elas - o termômetro de nossas amizades é a nossa confiança - quanto mais comunhão, mais confiança - sinalizamos que estamos cada vez mais entregues ao Senhor e por isso não temos medo de nos doar.
                Já diz o Livro Sagrado, em Eclesiástico 6, 14s - “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé.”
                Quantas das vezes estamos em situações difíceis e os nossos amigos vêm em nosso favor, nos sentimos desamparados, sozinhos, abandonados diante das mais diversas situações e um simples abraço amigo nos dá toda a segurança do mundo. Por isso já diz o Autor Sagrado, “Quem o achou, encontrou um tesouro” - Amigos são tesouros, assim como o outro, a prata e o diamante, muitas vezes brilhantes e reluzentes - os dons, as qualidades afloradas - engrandecem o nosso viver, mas por vezes também encontramos nossos amigos como pedra bruta, à vezes com aparência de cascalho, sujo - cheios de defeitos e limitações - e cabe a nós a ajudá-los a se descobrirem, a resgatarem a sua essência, lapidar! Assim como nós muitas vezes precisamos de ter nossa sujeira lavada, nossas arestas aparadas, enfim, ser lapidados, pelas mãos amigas, continuando assim a obra do Divino Artista!
                Certa vez ouvi de um poeta - amigo que felizes são aqueles que o amam com seus jardins, com suas qualidades, com suas belas flores e que exalam perfumes, mas que mais felizes ainda são aqueles que o amam com os seus chiqueiros, com suas misérias e defeitos! Amar os amigos com seus chiqueiros nos aproxima do grande amor que Deus tem por nós!
                Amizade é dádiva, é graça de Deus, já nos disse o Santo Padre, o Papa Bento XVI que “a amizade é uma das manifestações mais nobres do coração humano e tem em si algo de divino”, eu ouso dizer que as amizades são uma escolha divina e não meramente humana, a Mão de Deus pousa sobre o coração de duas pessoas, nas mais diversas situações, estabelecendo ali um elo muito forte, um elo de amor, que nada pode quebrar!
                Amizade é Sacramento, um sinal visível do amor de Deus por nós, daí a necessidade de cultivar como todo cuidado, assim como cuidamos da Eucaristia, como valorizamos o Batismo, Crisma, Ordem e o Matrimônio, tendo como palavra de ordem, o Amor - as amizades verdadeiras são assim, quanto mais nós as conhecemos, mais as amamos.
                Não tenhamos medo de escancarar os nossos corações, revelar os nossos jardins e os nossos chiqueiros. Não tenhamos medo de deitar toalha branca no altar da nossa vida, e nos sacrificar, nos arriscar e amar intensamente, assim como Jesus fez e faz conosco a cada dia!  
                Corramos este risco!

Deus o abençoe!
Seu amigo, seu Altar,

Mateus Fernandes

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Um sermão a balançar no peito!


Na Festa de Exaltação à Santa Cruz que celebramos hoje, este texto de Pe. Zezinho, scj, nos ajuda a  pensar e viver a nossa fé na Cruz Redentora de Cristo! Vale a pena conferir!                


Um sermão a balançar no peito! 
Pe. Zezinho, scj

                  "Faz 50 anos que carrego um sermão pendurado no pescoço. Decidi aos 18 anos que assim o faria. E é o que tenho feito. Eu levo uma cruz comigo. Em geral, por cima da camisa.
                Além da cruz no peito, tenho várias outras em casa. Você também as tem. Há quem não as leve, nem as tenha. Direito dele, direito nosso!
                Não sei por que você as tem ou leva, mas imagino que suas razões sejam as mesmas que as minhas. É questão de fé. Não é para me exibir. É para testemunhar a quem quer que me veja com aquele metal a balançar no meu peito que acredito na pessoa, na vida e na morte de Jesus de Nazaré a quem vejo como o Cristo, e, indo mais longe, a quem adoro como filho de Deus. Direito meu! Se alguém não crê, direito dele!
                Já fui contestado por causa da cruz no meu peito. Há quem diga que é lúgubre e que cultivo a morte e a derrota. Segundo ele, eu deveria levar uma frase que proclame a ressurreição e a vida, ou uma imagem de Cristo ressuscitado. Opinião dele! Eu tenho a minha! Ele sabe por que não leva uma cruz nem a tem na sua casa.
                Eu respeito e não discuto suas razões. O peito é dele e a casa é dele! Mas se ele não sabe por que eu levo uma cruz ao peito e tenho outras em casa e no meu carro, eu sei!
                 Não levo cruzes para dizer onde Jesus está e sim para dizer onde ele esteve e de que jeito encheu de esperança milhões de crucificados.
                 Se até alguém inocente e puro como Jesus acaba na cruz, então todas as cruzes podem ter um sentido e todos os crucificados podem transformar sua derrota em vitória, porque dois dias depois, de madrugada, ele tinha vencido a cruz e a morte.  Tinha ressuscitado!
                 Na minha teologia cruz e ressurreição não se opõem. Antes, complementam-se. Foi ele quem disse que quem não levasse a própria cruz e, de quebra, a dos outros não seria digno dele. (Mt 10,38 )
                 Acredito nos crucificados, acredito nos descrucificadores. Só não acredito em crucificadores, os que tudo fazem para esmagar e destruir os outros.
                É por isso que levo uma cruz comigo. Contra ou favor, espero que quem me vir de cruz no peito se pergunte porquê. É meu jeito de não permitir que o mundo esqueça o que fizeram com Jesus e o que fizeram e fazem com milhões de homens, mulheres e crianças mundo afora. (1 Cor 1,17) O mundo é uma gigantesca indústria de cruzes. E os violentos e maus se encarregam de nunca deixá-las vazias.
                É meu grito de protesto contra todos os crucificadores de plantão. É também meu grito de gratidão pelo que Jesus fez em favor dos feridos e oprimidos. Ele disse que daquela cruz atrairia todos a ele. ( Jo 12,32 ) E atraiu bilhões de almas.
                Quem não quiser levar uma cruz, não leve! Quem não a quiser ter em casa, não tenha. Eu levo e tenho. Foi Paulo que disse que a cruz é vergonha só para os pagãos.  Para nós é sinal de coragem e de solidariedade.
Entre Pilatos, Anás e Caifás e Simão Cireneu eu fico com Simão Cireneu. Os três primeiros comandaram a crucificação de Jesus. Simão ajudou a levar a cruz daquele que até hoje ajuda milhões a carregarem suas cruzes cotidianas.
                Isto mesmo! Pendurei uma cruz ao meu pescoço! E aqui, ela balançará enquanto Deus me der uma réstia de vida. Minha cruz fala até quando eu fico quieto!  É meu sermão silencioso que diz o tempo todo: não esqueçam as dores do mundo!"